Como eu me tornei esposa de um demonio!
Eu tinha tudo para ter uma vida perfeita e feliz, mas estraguei tudo naquela maldita noite. Maldito aquele livro que peguei para ler e que me levou a realizar tal atrocidade. Minha família – se é que ainda posso chamá-los de família, já que sou o demônio da mesma – hoje paga pelo meu ato impulsivo de menina levada.
Pois bem, tudo começou quando eu, Jane Kross – a menina linda, loira e popular do colégio – , saí da casa do meu namorado Max – nem namorado ele era, eu só estava com ele para ser rainha do baile – numa noite de quinta feira, lua cheia. Eu estava com aquele maldito livro nas mãos. Não vou dizer o nome dele, pois não quero que você passe o mesmo que eu.
Na rua perto da minha casa, havia esse velho prédio, onde antigamente funcionava a antiga biblioteca do bairro – era o lugar perfeito para testar meus conhecimentos com o tal livro -, eu fui até lá, entrei pela velha janela empoeirada do lado leste.
Velho, sujo e nojento são adjetivos perfeitos para descrever o local.
Então eu abri minha mochila e tirei de lá três velas, uma pena e uma agulha tamanho 6, como eu havia lido no capítulo 6, página 66 do livro.
Abri o livro na tal página indicada, sentei e o coloquei em meu colo. Coloquei as três velas ao meu redor e, como dizia no parágrafo segundo, com a agulha piquei meu dedo e pinguei uma gota de sangue em cada vela. No livro, não informavam instruções para a tal pena – depois de eu ter tido o maior trabalho para arrancá-la do papagaio do meu irmão mais novo – então comecei a ler as palavras indicadas no livro. Estavam em língua desconhecida, mas eu havia traduzido na internet e diziam algo sobre ser rica, famosa e ter tudo o que sempre quis a vida toda.
No momento em que terminei a primeira palavra as velas se acenderam e tomaram uma chama alta e forte o bastante para me aquecer – ou me deixar com calor, maldito dia em que eu usava calça e blusa de manga comprida.
O mais incrível de tudo é que uma vez que você começa a pronunciar as palavras é impossível parar.
As chamas não eram só altas e quentes, eram vermelhas, também. Não havia mais sinal da pena – não até aquele momento – até eu sentir algo me espetar na nuca e atravessar minha garganta. Não. Não era a pena. Era a agulha – a maldita agulha de tamanho 6 havia atravessado minha garganta e pousado sobre a pena. Eu não conseguia respirar. Foi então que eu percebi que não precisava.
Então a pena flutuou até meu braço e literalmente o rasgou, como se alguém estivesse escrevendo em mim. A dor era insuportável, mas eu não gritava ou me mexia. A única coisa que consegui fazer foi olhar pelo canto dos olhos o que estava sendo escrito – Fetus Formus Felix – era estranho, mas consegui identificar e saber do que se tratava. Eu reconheci o primeiro e ultimo nome. Então a pena, que antes escrevia sozinha, agora era acompanhada por uma mão masculina. Segui o braço até chegar ao rosto do ser. Seus olhos vermelhos me engoliram com tal rapidez que tudo o que consegui foi cair para trás, depois disso foi tudo escuridão e uma voz que cantava para mim – não era uma voz bonita – em língua estranha, a mesma do livro.
Tudo permaneceu normal durante uma semana, a não ser pela maldita voz que eu ainda ouvia sem parar a todo segundo. Dia. Noite. Acordada. Dormindo.
Tentei destruir o maldito livro, mas ele sempre aparecia para mim. O homem não aparecia para mim, exceto quando eu me olhava no espelho.
Durante dois meses eu me torturei e quase enlouqueci. Cheguei a ir para uma clinica de reabilitação – eu virei a piada da escola – eu não comia mais, não bebia. Não água.
Levei cerca de quatro anos para me adaptar, depois de matar a enfermeira da clínica e fugir.
Eu bebo sangue, mas não sou um vampiro. Eu sou um demônio. Eu só bebo sangue fresco, acabado de sair do local escuro de seu progenitor. Sim. Eu bebosangue de recém nascidos. É o único que me sacia.
Eu vago pelas cidades, roubando crianças na maternidade. Eu vivo uma vida suja, mas esse não é o pior. Eu não controlo a mim mesma. Eu vejo com meus olhos, eu ouço com meus ouvidos, mas não sou eu que falo com minha boca ou me movimento com meu corpo.
Eu sou o parasita. No meu próprio corpo.
“Meu nome é Jane Kross e eu sou casada com Fetus Formus Felix”